“Fomos muito bem recebidos por toda a equipe do IAP“, Joana Rennó inicia seu relato paraense. “E, já no primeiro dia, me impressionei com a revoada de periquitos em direção às árvores do instituto. Milhares, aos montes, num estardalhaço”. Além da exuberante natureza e da comilança de dois posts atrás, Joana nos conta ponto a ponto como foram as palestras de Ivana Bentes, André Brasil e Ronaldo Entler no Instituto de Artes do Pará, onde o público e os perequitos ouviram atentamente o papo sobre processos de criação e cinema expandido. Confira:

Os palestrantes em Belém do Pará
Ivana Bentes: das vanguardas históricas à comunicação na contemporaneidade
“O ciclo de palestras começou com a fala da professora Ivana Bentes: dos processos de criação das vanguardas históricas às estéticas da comunicação na contemporaneidade. Como perceber o que é habitual e o que é criação? Como o processo de criação pode migrar de um campo para o outro? Estas foram algumas das questões discutidas pela pesquisadora. O gesto do artista como possibilidade de deslocamento de objetos do cotidano para espaços radicalmente diferentes.

Ivana Bentes
“Ivana pontuou também que, nos dias atuais, nos tornamos unidades produtoras de imagens, a partir das tecnologias e gadgets hoje disponíveis. Para além de meros consumidores, somos produtores e distribuidores de conteúdo, num processo em que a especialização não é mais condição para que as imagens sejam feitas e circulem (câmeras digitais, celulares, youtube, etc)”.
André Brasil: o cinema de volta à infância
“No segundo dia, além da oficina ministrada por Eliane Brum, tivemos a mesa Cinema Expandido: Novos Formatos, Novos Espaços, com André Brasil e Ronaldo Entler.

André Brasil
“André começou pontuando uma questão muito pertinente: como pensar o cinema para além do cinema? Como pensar as forças que atravessam o cinema para além da sala escura? Para começar a fala, um trecho do vídeo Zen For Film, de Nam June Paik, que projeta uma imagem branca só justaposta por arranhões da própria película. Uma imagem vazia, mas que, pontencialmente, concentra todas as outras.

Respeitável público
“Ao discutir a exposição Voyage(s) en Utopie, de Jean-Luc Godard, no Centre Pompidou (França), todas essas inquietações foram problematizadas. Numa fala cheia de poesia e conexões, André ressalta que a expansão do cinema pode religar o cinema à sua infância. Em outras palavras: a expansão do cinema remeteria à própria arqueologia da imagem cinematográfica, por meio de seus vestígios mas também de sua potência. Difícil resumir tanta coisa instigante em poucas linhas…
(Confira o registro da exposição.)”
Ronaldo Entler e a historicidade do olhar

Ronaldo Entler
“Ronaldo Entler entrou logo em seguida, para continuar a reflexão. De Degas a Muybridge, até chegarmos em Chris Marker, Ronaldo levantou questões sobre o cinema expandido. A partir de um olhar historicamente construído, poderíamos olhar para uma obra e perceber o que há de cinematográfico ali. Daí a possibilidade de pensarmos todos os artistas acima simultaneamente.

Gente atenta
“Lembrando Chris Marker, Ronaldo cita que esse artista uma vez disse que, com uma câmera na mão, a gente não tem a menor idéia do que filma. Tudo pode mudar a partir de uma volta às imagens. Para entender melhor a afirmação, fomos levados a pensar o conceito de história de Walter Benjamin, que entende a história não como algo linear, com causa e efeito, mas como uma constelação, formada por estruturas pulsantes cheias de lacunas, em ligações móveis. O passado tem que permanecer vivo e quando olhamos para uma obra, o fazemos a partir de uma referência de linguagem. Passado, presente e futuro em relações que explodem com a linearidade”.
[Joana Rennó]